Alimentação contra a hipertensão
A hipertensão afeta um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo.
Apesar de tudo, contrariar a situação pode ser relativamente fácil. É uma questão de boas escolhas. E a maior parte delas pode ser feita logo à mesa de jantar.
“Em Portugal, existem cerca de dois milhões de hipertensos. Destes, apenas metade tem conhecimento de que tem pressão arterial elevada, apenas um quarto está medicado e apenas 16 por cento estão controlados”. A frase pode ser lida online, no Portal da Saúde. E é importante – ainda que sem alarmismos contraproducentes – estarmos atentos aos números deste problema de saúde que afeta cada vez mais portugueses.
Comecemos com uma pequena explicação: considera-se hipertensão arterial quando se verificam valores de tensão arterial acima do que se considera normal, passe o termo. Para se caracterizar um caso específico como hipertensão, consideram-se valores de tensão arterial sistólica (contração do músculo cardíaco) superiores ou iguais a 140 mm Hg (milímetros de mercúrio) e/ou valores de tensão arterial diastólica (relaxamento do músculo cardíaco) superiores a 90 mm Hg.
Estes valores de referência servem-nos como um guia. O diagnóstico em si terá de ser feito pelo médico, já que a pressão arterial num adulto pode variar devido a outros fatores, como o esforço físico, sem que tal signifique que o indivíduo sofre de hipertensão arterial. Mas quando pensamos em causas, não são precisas análises ao milímetro. Encontramo-las no nosso dia-a-dia.
Inês Gil Forte, nutricionista, alerta-nos precisamente para os detalhes do quotidiano: “Quantas vezes, não vamos a um restaurante e sentimos que o que estamos a comer está demasiado salgado? Quantas vezes não se vê alguém adicionar sal de mesa ao prato já preparado?”, questiona.
A verdade é que “todos estes gestos levam a um consumo demasiado exagerado de sal e consequentemente a um aumento da tensão arterial”. Quando passamos do abstrato para o concreto percebemos o impacto que a hipertensão pode ter no nosso organismo. E o quão perigosa se pode tornar.
Nos primeiros anos, habitualmente a hipertensão arterial não provoca sintomas particularmente visíveis. Os valores de tensão elevados que detetam através da medição da pressão arterial servem apenas como referência. Uma espécie de aviso para a necessidade de mudanças no estilo de vida.
Mas a hipertensão é o tipo de doença silenciosa que acaba por se fazer sentir. Se em certas fases se pode manifestar através de cefaleias, tonturas ou até um mal-estar vago, que seria facilmente confundida com muitas outras doenças, a verdade é que com o decorrer dos anos a gravidade da situação aumenta.
Os vasos sanguíneos e os órgãos vitais vão sendo afetados pela pressão arterial, o que provoca novos e variados sinais de alerta. Em casos mais graves, a hipertensão, tratando-se de um fator de risco das doenças cardiovasculares, pode mesmo fazer um coração parar. Como abordar então a hipertensão?
A força de uma vida saudável com uma alimentação cuidada!
Entre os fatores de risco de hipertensão destaca-se a obesidade, o consumo exagerado de sal e de álcool, uma alimentação incorreta, o tabagismo, o stress e o sedentarismo. Como é fácil de perceber, estes fatores dependem e muito de um estilo de vida saudável. O qual, consequentemente, depende de outro fator: a nossa alimentação. Mais concretamente o que comemos e em que condições.
Inês Gil Forte explica-nos que, além da quantidade de sal que se põe na comida, devemos estar atentos ao “consumo exagerado de enchidos, embutidos, fiambre e presunto, conservas, alimentos pré-preparados congelados, queijos, que também levam a um consumo muito elevado de sal”.
A isto podemos ainda acrescentar que “os folhados, as bolachas, os patês, o pão e os refrigerantes também podem ser ricos em sal e muitas vezes mesmo em sódio”, bem como o consumo de gorduras saturadas, que “tem que ser controlado, tendo em conta que leva ao aumento de peso”.
Finalmente convém ainda relembrar que “o consumo de álcool também é referido como algo que ajuda a aumentar a tensão arterial (cerca de 7% dos hipertensos, são-no devido ao consumo excessivo de álcool) e, como tal, também é algo a controlar”.
Estatisticamente, o nosso país apresenta números elevados de hipertensão e de risco cardiovascular. Apesar de o problema estar identificado, a situação continua a ser grave. O que significa que embora até haja bastante informação sobre o assunto, a verdade é que quando chega o momento de sentar à mesa, muitos alimentos saudáveis ficam de fora.
É o que acontece, como alerta a nutricionista, com as leguminosas como o grão, o feijão, as lentilhas, as favas e as ervilhas, mas também com a batata-doce, a banana, o tomate, a beterraba, o a aveia, a cevada, as sementes de abóbora ou girassol, com os figos (bastante ricos potássio, magnésio e cálcio), mas também oleoginosas (frutos secos), que podemos encontrar à venda sem sal, e que em quantidades cuidadas podem ser um excelente substituto de um lanche mais calórico.
Mas além de algum cuidado na escolha dos alimentos, há mais exemplos práticos para quem quer fazer uma alimentação contra a hipertensão. Inês Gil Forte sugere que se comece por “aprender a cozinhar os alimentos o mais natural possível, ou seja, com menos molhos”, mas a especialista recorda ainda alguns dos princípios da dieta mediterrânica, entretanto já quase desaparecida dos hábitos alimentares dos portugueses.
“Aprender a utilizar as ervas aromáticas, tão características no nosso país, e as especiarias” é uma forma de condimentar a comida, reduzindo-se a quantidade de sal sem que tal afete o sabor.
Atualizado a: