Alimentação macrobiótica, em sintonia com o corpo e com a natureza
Acha que macrobiótica e vegetarianismo são a mesma coisa? Erro. O grande foco da macrobiótica não é que alimentos podemos comer e quais devemos excluir da nossa alimentação, mas antes como comer segundo as nossas características biológicas, equilibrando yin e yang. E, sim, isso pode incluir comer carne. Este é o retrato de uma filosofia de vida que defende que “somos aquilo que comemos”, mas também que somos parte de um todo, da natureza.
Seguir a alimentação macrobiótica não é apenas aderir a uma dieta. É um regime alimentar que engloba todo um estilo e filosofia de vida. Os princípios são semelhantes ao vegetarianismo – que preconiza uma alimentação baseada em frutas, legumes e vegetais -, e incentiva ao consumo de produtos locais. Mas é mais do que isso. Francisco Varatojo, diretor do Instituto Macrobiótico Português, refere como ideias centrais o “respeito e gratidão pela natureza e pela vida em geral”.
George Ohsawa, que trouxe a macrobiótica do oriente para a Europa, nos anos 30, defendeu desde o início que esta é uma prática flexível que deve ser adaptada à personalidade e organismo de cada um. Assim, na filosofia macrobiótica não existem ideias radicais ou extremas, assim como também não existem alimentos proibidos. Baseia-se num sistema de aconselhamento que, conforme explica Francisco Varatojo “recomenda uma alimentação base centrada em cereais integrais, vegetais, sementes, frutos, algas e leguminosas e (…) desaconselha alimentos muito processados e refinados, o açúcar, a carne, os produtos lácteos, os refrigerantes e o uso de produtos químicos no corpo”. Mas também não os proíbe em absoluto.
E é de tal maneira adaptável ao estado em que cada um se encontra, que até um dos princípios mais fortes – não consumir produtos de origem animal – é flexível. “Em climas muito extremos, como nos polos, pode ser necessário o consumo de produtos animais, assim como nalgumas condições específicas de saúde. Também existem macrobióticos que são vegan (não comem qualquer tipo de produtos animais) e outros que consomem ocasionalmente algum produto animal, regra geral peixe branco”, refere o diretor do Instituto Macrobiótico Português.
Yin e Yang
Uma das principais características da gastronomia tradicional chinesa é a aplicação da teoria do yin e yang na culinária e a alimentação macrobiótica não é exceção. Segundo esta filosofia, existem duas forças opostas na natureza que se complementam, sendo que, na cozinha, ajudam a prevenir doenças físicas e problemas emocionais. Ou seja, manter a harmonia entre corpo e espírito dependem do equilíbrio entre estas duas forças. Tendo em conta que os alimentos vêm da natureza, também estes são portadores do yin e yang e é também através da ingestão deles que alcançamos um equilíbrio destas duas forças.
Os alimentos de energia yin, por norma, são alimentos que produzem maior expansão corporal, tornando o corpo mais frio, pelo que devem ser consumidos no Verão ou em climas mais quentes, são estes, por exemplo, as frutas tropicais, os frutos secos, tofu e azeite, entre outros. Já os alimentos yang, por norma, contraem os tecidos, fazem subir a temperatura corporal e, como tal, devem ser consumidos nas estações mais frias. São especialmente ricos em energia, são disso exemplo, o peixe e os cereais, massas, milho e raízes. Na prática, segundo a cultura oriental, uma alimentação demasiado yang pode provocar acne e mau-hálito, enquanto uma alimentação muito yin vai trazer letargia ou anemia.
O consultor macrobiótico acrescenta que “todos os fenómenos, alimentos incluídos, têm qualidades energéticas, metafísicas e de que a harmonia relativa é conseguida quando ‘equilibramos’ estes dois polos, yin e yang, nas nossas vidas”.
Os benefícios de aderir à alimentação macrobiótica:
O presidente do Instituto Macrobiótico Português refere que “a maioria dos problemas de saúde modernos como hipertensão, obesidade, colesterol elevado, e diabetes, entre outros – assim como os problemas ambientais que colocam em risco a vida no planeta, estão intimamente ligados aos hábitos alimentares modernos”. E acrescenta ainda que “a alimentação macrobiótica, predominantemente vegetariana, é vital para um restabelecimento humano e ambiental”.
Quanto às contraindicações existe alguma controvérsia, pois sendo esta uma dieta bastante liberal que se adapta as necessidades de quem a procura, com aconselhamento e seguimento médico, em teoria, não deverá ser prejudicial. Francisco Varatojo defende que “as contraindicações deste tipo de alimentação são inexistentes quando a prática é consciente e adequada”. Mesmo assim, existe o alerta de alguns especialistas de nutrição que consideram a filosofia macrobiótica prejudicial a quem sofre de anemia ou osteoporose, não aconselhando a mudança para uma dieta sem produtos animais.
Se gostou do que leu e está a ponderar adotar uma dieta macrobiótica, o conselho dos especialistas é que o faça por fases. Não elimine ou troque os seus hábitos alimentares abruptamente. Lembre-se que o seu organismo ganhou uma rotina alimentar e contrariá-la de forma brusca pode ser prejudicial para a sua saúde.
Em vez de deixar de comer alimentos, experimente, fazer ao contrário e adicionar novos alimentos às refeições, por exemplo, incluir cada vez mais legumes, vegetais e frutas, eliminando doces e outros açúcares. A partir daí, aos poucos, pode ir alterando a dieta.
Mas independentemente de existir bastante informação disponível, é aconselhável que, antes de alterar o seu padrão alimentar, consulte um especialista de nutrição, de forma a preparar o seu organismo para a mudança e sem comprometer a sua saúde.
Fonte: Francisco Varatojo, diretor do Instituto Macrobiótico Português e consultor de macrobiótica
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