Porque há países que não “engordam”?
A recente publicação do relatório Future Diets do Overseas Development Institute (ODI), trouxe novamente o tema do aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade no mundo para a ordem do dia. Estima-se que 1 em cada 3 adultos têm excesso de peso ou obesidade, contabilizando cerca de 1,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo.
Alguns países, como a Coreia do Sul, parecem no entanto “imunes” a esta crescente pandemia. Vale a pena debruçarmo-nos um pouco sobre a génese desta “imunidade”, retirando aplicações práticas desse exercício.
Os últimos dados disponíveis indicavam uma prevalência de obesidade de 3,8% na Coreia do Sul, contra os 19,9% em Portugal. Há razões para crer que os valores apresentados pela Coreia do Sul manter-se-ão estáveis nos próximos anos, enquanto para Portugal, as perspetivas são de um aumento, acompanhando a tendência da maioria das regiões do mundo.
Desde de 1995 que na Coreia do Sul existe uma verdadeira Política Nutricional de carater multissetorial e integrativo desenvolvida para proteger os hábitos alimentares provenientes da gastronomia tradicional sul-coreana com resultados visíveis nos dias de hoje.
Em Portugal o mais próximo que temos de uma política nutricional é o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável aprovado em 2012 que visa “melhorar o estado nutricional da população, incentivando a disponibilidade física e económica dos alimentos constituintes de um padrão alimentar e criar as condições para que a população os valorize, aprecie e consuma, integrando-os nas suas rotinas diárias”.
O que podemos aprender com o exemplo Sul-coreano para nos protegermos como povo e até individualmente?
O aproveitamento e fomento dos bons hábitos alimentares tradicionais dos nossos antepassados pode ser um excelente ponto de partida. A Dieta Mediterrânica recentemente classificada pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, tem sido muito estudada nos últimos 50 anos e está associada a uma maior longevidade geral, à menor incidência de doenças oncológicas, cardiovasculares, neurodegenerativas, diabetes mellitus tipo 2 e inclusivamente obesidade.
Iniciar as refeições principais com uma boa sopa de legumes, utilizar como métodos de confeção mais frequentes os cozidos, os ensopados e as caldeiradas. Introduzir como ingredientes base os hortícolas e leguminosas temperados com azeite e ervas aromáticas, completando com produtos provenientes da pesca, pão e cereais pouco refinados, frutas frescas e secas pode ser uma forma saborosa de protegermos a nossa saúde e o nosso peso.
Um estilo de vida fisicamente ativo e a convivência também são parte integrante do padrão de vida mediterrânico, quer através das refeições feitas em família e em ambiente calmo, que através das deslocações a pé em alternativa ao carro e da promoção de atividades ao ar livre (e. g. jogos em família, caminhadas ou passeios em grupo).
Como ideia final, não temos que adotar a o estilo de vida de outros países para estarmos mais protegidos do aumento do peso, podemos simplesmente aproveitar o que culturalmente e socialmente temos de bom entre nós, preservando-o e promovendo-o, indo ao encontro de um estilo de vida que nos proteja do aumento do peso e que simultaneamente nos faça sentir bem em nós próprios e com as nossas raízes.
Fonte: Rui Jorge, Nutricionista e Mestre em Nutrição
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